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A ESCRAVIDÃO NA BÍBLIA.

Este texto e parte integrante  de um artigo maior postado neste blog: A TEOLOGIA PRESENTE NOS DISCURSOS DA IGREJA CATÓLICA       NO FIN...

17/07/2017

O SAGRADO E PROFANO NO LIVRO DE LEVITICO

O sagrado e profano no Livro de Levíticos.

Autor: José M. Vieira Rodrigues
(Bacharel em Teologia)

 RESUMO:
O presente artigo propõe analisar, sob as perspectivas antropológica e teológica,  ritos e ordenanças  presente no  livro bíblico de Levítico,   no contexto que remete às práticas que se denominam sagradas e profanas.

PALAVRAS CHAVES: Bíblia, Levítico, Bíblia, ritos, leis, sagrado, profano.


Introdução.
O conceito de sagrado e profano na concepção moderna sugere muitas divergências devido às diferenças que envolvem as crenças e costumes populares, no aspecto sócio-antropológico. As influências culturais colaboram na produção e tradição dos ritos, mesmo que estes tenham características que remetam ao contexto teológico bíblico, como o livro de Levítico, que pode levar a diferentes interpretações dos ritos praticados desde a época em que foi escrito. A proposta deste artigo é analisar Levíticos sob o olhar de Mircea Eliade, o Sagrado e Profano e identificar o que seria sagrado/profano nos dias da formação de Israel.

1)                  O SAGRADO E PROFANO.

    Segundo Mircea Eliade, historiador especialista em estudos das religiões, o fenômeno do sagrado e profano em toda sua complexidade, partindo da definição primordial da oposição entre sagrado e profano, ele desenvolve assim aprofundamento do tema e revela em seus estudos essa problemática religiosa perpassando pelos meandros da história da humanidade. 
Para Eliade, o conhecimento do sagrado se faz justamente em suas manifestações pelo viés hierofânico[1], ou seja, levar ao conhecimento através das realidades sagradas, que não fazem parte do mundo homogêneo, revelando-se assim, tais manifestações ao homem religioso e a história está repleta de considerações sobre relatos de hierofanias. O autor pondera que diante das hierofanias o homem moderno passa por certo 'mal-estar' e 'constrangimento',  por não compreender totalmente como um objeto revela o divino e vice-versa, por não ser sensível a dois modos de ser no mundo: o sagrado e o profano. O homem moderno dessacralizado, dessacraliza as manifestações sagradas, permanecendo em posição desconfortante existencialmente. Para o autor as posições existenciais, sagrado/profano, assumidas pelo homem ao longo da história, são conquistas humanas e assim patrimônio da cultura universal.
    Em relação ao espaço sagrado/profano, nota-se que a construção do sagrado está enraizada qualitativamente, diferentemente em relação ao espaço profano que o cerca; revelando múltiplas variações e diferenças históricas significativas e de extrema relevância para a compreensão dos fatos religiosos; e quão interessante é abordar dimensões específicas da experiência religiosa, apontando diferenças em relação à experiência profana - que no decorrer da história o comportamento humano tanto o religioso quanto o não religioso estão intrinsecamente conectados ao “homo religiosus”, a humanidade e seu desenvolvimento histórico. 
    Concernente ao Espaço Sagrado e a sacralização do mundo  Mircéa Eliade trata do espaço vivencial do homem analisando o espaço sagrado/profano e suas manifestações. Nesse sentido é que o contexto histórico e religioso encontrado em Levítico acontece. Em Levíticos encontramos o espaço/profano vivencial dos israelitas. Esse espaço foi sendo construído a partir de ocorrências históricas anteriores e que no deserto do Sinai o espaço sagrado/profano se estabeleceu  

2)  O ANTIGO TESTAMENTO E  LEVÍTICOS

    O Antigo Testamento, também chamado de escrituras hebraicas, é a primeira parte da bíblia cristã, da qual é constituída por 39 livros. Assim, nestes livros se encontram informações importantes para a explicação da vida na Terra. O Antigo Testamento buscou descrever claramente a aliança de Deus com o povo de Israel. De acordo com a crença religiosa  judaico-cristã, Deus fez um pacto com o povo israelense, e esse pacto e todos os seus detalhes a respeito estão totalmente descritos neste livro. Junto com o Novo Testamento, ele forma a Bíblia Sagrada, o livro sagrado do Cristianismo.
O livro de Levítico  deve ser lido como uma continuação dos capítulos 25 a 40 de Êxodo, pois a primeira expressão do livro “e chamou o Senhor a Moisés” sugere esta estrutura, que na realidade vai até o livro de Números 10:10, narrando o primeiro ano do nascimento da nação de Israel. As leis são discursos que Javé diz a Moisés, para que ele transmita ao povo. Estas leis eram para todo povo, pois tratava sobre os procedimentos de culto, festas solenes, instruções para os sacrifícios e diretrizes gerais para que a vida religiosa não fosse desassociada da vida civil.

3)      O SAGRADO/PROFANO EM LEVÍTICO.

Segundo o texto “Estudo de Levíticos” [2],   o nome Levítico vem do grego, e significa “o que é relativo aos levitas”. O nome hebraico do livro é “Ele chamou”, tirado das primeiras palavras do primeiro versículo. Segundo esclarece este “Estudo”  à expressão “O Senhor disse a Moisés”, aparece cerca de 30 vezes. O livro é assim chamando porque nele está descrito e disposto o sistema de adoração e de condutas levíticas.[3].
As “leis” ou regras cerimoniais a serem obedecidos, os ritos sagrados, os animais designados para os sacrifícios foram previamente estabelecidos pelo Ser  Supremo que àquele povo se revelou  como sendo o Deus de Abraão, Isaque e Jacó.  Logo, se entende  que todo aquele cerimonial era sagrado para os israelitas e isto pode se verifica pelo cuidado que deveriam ter com os objetos sagrados, vestuários e com as vitimas a serem consagradas e oferecidas no altar do sacrifício.  Uma breve leitura de Levíticos se verifica que as palavras que mais aparecem ao longo do texto  são: limpo, puro, santo, santidade, etc., todas relacionadas ao sagrado. Para que a oferta fosse aceita por Deus deveriam seguir o ritual estabelecido; um detalhe importante entre os rituais des religiões antigas.
    Em Levíticos cap. 06, vers. 14  diz assim: “E esta é a lei da oferta de alimentos: os filhos de Arão a oferecerão perante o Senhor diante do altar”.  Verifica-se por esta passagem que há forte paralelo com
ü  “A lei” - Regulamentação” divina paro  o ritual considerado sagrado;
ü  Oferta de alimentos – objetos que serão consagrados no altar, como se fosse alimentos oferecidos aos deuses como se os mesmo se alimentassem;
ü  Filhos de Arão - Sacerdotes, adorador, líder religioso responsável pelo rito;
ü  “O Senhor” – divindade a ser apaziguada ou adorada e transcendental; 
ü  Altar  - local adequado para o rito.
 O sagrado está presente em todo texto de Levíticos. Malinoviswki: ao falar das civilizações nativas afirma que estes “atos e praticas que eram  tradicionais para eles, eram considerados sagrados, executados com reverencia e temor, rodeados de proibições e normas especiais de comportamento[4].   Concorda  com Nircéa (p.13)  que o sagrado  se torna  conhecimento e faz justamente em suas manifestações hierofânica, isto é, que algo de sagrado se nos revela. Assim aquele povo vivia em um cosmo sacralizado em seu tempo, próprio de sua época (Mirceia, p. 16).
      Segundo Nircéia (p.17) a própria divindade criou esse espaço sagrado quando disse a Moisés no monte para não se aproximar Dele (Ex. 3.5).   Assim criou-se  uma realidade através de  manifestações divinas que tornaram o sagrado concreto através de experiências vividas por eles.

Quando o sagrado se manifesta por uma hierofania qualquer, não só há rotura na homogeneidade do espaço, como também revelação de uma realidade absoluta, que se opõe a não realidade da imensa extensão envolvente. A manifestação do sagrado funda ontologicamente o mundo (Nircéia, p.17).

A forma com que os levitas faziam do mundo era baseados nessas mentalizações decorrentes de suas experiências com o sagrado e assim seu  espaço sagrado foram criados e desenvolvidos pelas praticas diárias e pelas consequentes manifestações de Deus entre eles.
Para  Mircéia (p.13)  o sagrado é sacralização do objeto hierofânico, portanto  profano será o oposto, mas não somente isto, ao sacralizar o mundo ou criar-se um espaço sagrado aquilo que está fora desse espaço ou fora de sua forma de ver as coias é o profano. O homem profano para Niceia (p.18) é aquele  que recusa essa forma de sacralização do mundo, purificada de toda pressuposição religiosa.  Por outro lado, aquele local sagrado torna-se para o homem religioso  o centro do mundo, a porta do céu, o local onde ele pode se comunicar com os deuses, um local divino (p. 25,37).
Segundo Nircéia (p.38) é através do rito que o homem religioso vai fazer a passagem sem perigo, do ‘tempo ordinário’, privado de sacralidade para o ‘tempo religioso’.   Os levitas poderiam viver em duas espécies de tempo: aquele cercado por ritos e leis,  o sagrado; e aquele desprovido de qualquer pressuposto religioso, uma viver heterogênio, de lazer, trabalho e festas (Nircéia, p. 39).
O  profano em levítico deve ser identificado dentro do contexto sociológico da época de levitico e não pelas concepções modernas de profano, portanto em leviticos profano é tudo aquilo que estava fora do local sagrado ou que não dizia respeito às cerimônias e rituais.  O Ano sabático, instituído a cada sete anos, para dar descanso a terra,  não é um ritual religioso, mas técnicas agrícolas de preservação da terra de plantio. O Ano Jubileu,  que ocorria a cada cinquenta anos, quando a terra deveria descansar por um ano  sem fazer plantações nelas. Neste ano as terras vendidas deveriam ser restituídas ao seu verdadeiro dono e todas as dívidas perdoadas. Aqueles que se venderam à escravidão para pagamento de suas dívida, deixavam a escravidão e teria sua divida findada.  Estas leis não era apenas um Código de leis civis como conhecemos no ocidente, mas leis sagradas que desobedecidas se tornava pecado e além de punições havia necessidade de passar por um ritual de purificação. Levíticos há leis religiosas e civis e profanar essas leis constituía pecado. O profano é a desobediência das leis de Deus:

se andardes nos meus estatutos, e guardardes os meus mandamentos, e os cumprirdes, Então eu vos darei as chuvas a seu tempo; e a terra dará a sua colheita, e a árvore do campo dará o seu fruto; E a debulha se vos chegará à vindima, e a vindima se chegará à sementeira; e comereis o vosso pão a fartar, e habitareis seguros na vossa terra.  (Lv. 26:3-5)

A linha divisória entre sagrado e profano em Levíticos é muito tênue, porque não há separação entre religião e Estado; o regime politico existente é o teocrático, quando a divindade determinas a direção e a ações das pessoas. 
     Numa concepção moderna  o profano é tudo aquilo que está relacionado ao mundo atual em que vivemos, também chamado de século e que está relacionado com a ciência  e não com o mundo místico transcendental.  Mas no tempo de Levítico a realidade de mundo era o sagrado e fora dele o profano, logo desobedecer às leis do sagrado constituía pecado e passível de punição divina.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
    Para Malinowski (p. 6)  “a magia e religião  não são meramente uma doutrina ou filosofia, não apenas o cerne da opinião intelectual, mas o modo  especial de comportamento, uma atitude pragmática  impregnada de razão, sentimento e vontade em partes iguais”.  
    Desta forma, a religião em Levíticos era bem concreta para os israelitas, especialmente para o mais envolvido, os Levitas que estavam ali bem perto e ministros do cerimonial.  A ideia de sagrado/profano  para eles estava bem mentalizada; começava pela aproximação do santuário, onde ninguém deveria comparecer ao Senhor sem uma oferta à mão.  
    As tarefas diárias como trabalho, lazer, convivência família, casamento e festas era tudo concebido pelo viés do sagrado. A lei de Moisés (Torá) praticamente regulamentava tudo que envolvia o ser humano daquela comunidade israelita. O estado e religião estavam juntos e as regras era a mesma. Era profano separar o Estado da religião; era, portanto, um sistema totalmente laicista.

04) FONTES BIBLIOGRÁFICAS
ALMEIDA. João Ferreira de. Bíblia sagrada: revista e atualizada. São Paulo:      Sociedade Bíblica do Brasil. 2011,  
CHAMPLIN, R.N. Enciclopéia de Bíblia, Teologia e Filosofia. 10ª.Ed. São Paulo:          Agnus.  Vol. 03, 2011.
ELIADE, Mircéa. O Sagrado e o Profano. São Paulo: Martins fontes, 2001,
ESTUDO DE LEVÍTICOS, disponível no website:              http://segundaipudi.org.br/modulos/boletins/arquivos/26221445346281.pdf,        visto em 05/12/2015
GUERRIERO, Silas (Org.). O estudo das religiões: desafios contemporâneos. São Paulo: Editora Paulinas, 2003, Col. Estudos da ABHR
MALINOWSKI, B. Magia, ciência e religião, disponível no web site:             http://www.resumosetrabalhos.com.br/magia-ciencia-religiao-bronislaw-   malinowski.html, visto em 05/11/15

05)- WEB SITES CONSULTADOS
Estudo de Levíticos, disponível no website:              http://segundaipudi.org.br/modulos/boletins/arquivos/26221445346281.pdf,        visto em 05/12/2015




[1] Hierofanica termo cunhado por Niercea Eliade (p. 13): “Este termo é cômodo, pois não implica nenhuma precisão suplementar: exprime apenas o que está implicado no seu conteúdo etimológico, a saber, que algo de sagrado se nos revela”.
[2] Disponível no Website da II igreja Presbiteriana de Uberlândia:  http://segundaipudi.org.br/, visto em 05/12/15
[3] Champlin, vol. 03.p. 794.
[4] Malinowski, B, p. 03.

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