O sagrado e profano no Livro de Levíticos.
Autor: José M. Vieira Rodrigues
(Bacharel em Teologia)
(Bacharel em Teologia)
RESUMO:
O presente artigo
propõe analisar, sob as perspectivas antropológica e teológica, ritos e ordenanças presente no livro bíblico de Levítico, no
contexto que remete às práticas que se denominam sagradas e profanas.
PALAVRAS CHAVES: Bíblia, Levítico,
Bíblia, ritos, leis, sagrado, profano.
Introdução.
O conceito de
sagrado e profano na concepção moderna sugere muitas divergências devido às
diferenças que envolvem as crenças e costumes populares, no aspecto
sócio-antropológico. As influências culturais colaboram na produção e tradição
dos ritos, mesmo que estes tenham características que remetam ao contexto
teológico bíblico, como o livro de Levítico, que pode levar a diferentes
interpretações dos ritos praticados desde a época em que foi escrito. A
proposta deste artigo é analisar Levíticos sob o olhar de Mircea Eliade, o
Sagrado e Profano e identificar o que seria sagrado/profano nos dias da
formação de Israel.
1)
O SAGRADO E PROFANO.
Segundo Mircea Eliade, historiador
especialista em estudos das religiões, o fenômeno do sagrado e profano
em toda sua complexidade, partindo da definição primordial da oposição entre
sagrado e profano, ele desenvolve assim aprofundamento do tema e revela em seus
estudos essa problemática religiosa perpassando pelos meandros da história da
humanidade.
Para Eliade, o conhecimento do sagrado se faz justamente em suas manifestações pelo viés hierofânico[1], ou seja, levar ao conhecimento através das realidades sagradas, que não fazem parte do mundo homogêneo, revelando-se assim, tais manifestações ao homem religioso e a história está repleta de considerações sobre relatos de hierofanias. O autor pondera que diante das hierofanias o homem moderno passa por certo 'mal-estar' e 'constrangimento', por não compreender totalmente como um objeto revela o divino e vice-versa, por não ser sensível a dois modos de ser no mundo: o sagrado e o profano. O homem moderno dessacralizado, dessacraliza as manifestações sagradas, permanecendo em posição desconfortante existencialmente. Para o autor as posições existenciais, sagrado/profano, assumidas pelo homem ao longo da história, são conquistas humanas e assim patrimônio da cultura universal.
Para Eliade, o conhecimento do sagrado se faz justamente em suas manifestações pelo viés hierofânico[1], ou seja, levar ao conhecimento através das realidades sagradas, que não fazem parte do mundo homogêneo, revelando-se assim, tais manifestações ao homem religioso e a história está repleta de considerações sobre relatos de hierofanias. O autor pondera que diante das hierofanias o homem moderno passa por certo 'mal-estar' e 'constrangimento', por não compreender totalmente como um objeto revela o divino e vice-versa, por não ser sensível a dois modos de ser no mundo: o sagrado e o profano. O homem moderno dessacralizado, dessacraliza as manifestações sagradas, permanecendo em posição desconfortante existencialmente. Para o autor as posições existenciais, sagrado/profano, assumidas pelo homem ao longo da história, são conquistas humanas e assim patrimônio da cultura universal.
Em relação ao
espaço sagrado/profano, nota-se que a construção do sagrado está enraizada
qualitativamente, diferentemente em relação ao espaço profano que o cerca; revelando múltiplas variações e diferenças históricas significativas e de
extrema relevância para a compreensão dos fatos religiosos; e quão interessante
é abordar dimensões específicas da experiência religiosa, apontando diferenças
em relação à experiência profana - que no decorrer da história o comportamento
humano tanto o religioso quanto o não religioso estão intrinsecamente conectados
ao “homo religiosus”, a humanidade e seu desenvolvimento histórico.
Concernente ao Espaço Sagrado e a sacralização do mundo Mircéa Eliade trata do espaço vivencial do homem analisando o espaço sagrado/profano e suas manifestações. Nesse sentido é que o contexto histórico e religioso encontrado em Levítico acontece. Em Levíticos encontramos o espaço/profano vivencial dos israelitas. Esse espaço foi sendo construído a partir de ocorrências históricas anteriores e que no deserto do Sinai o espaço sagrado/profano se estabeleceu
Concernente ao Espaço Sagrado e a sacralização do mundo Mircéa Eliade trata do espaço vivencial do homem analisando o espaço sagrado/profano e suas manifestações. Nesse sentido é que o contexto histórico e religioso encontrado em Levítico acontece. Em Levíticos encontramos o espaço/profano vivencial dos israelitas. Esse espaço foi sendo construído a partir de ocorrências históricas anteriores e que no deserto do Sinai o espaço sagrado/profano se estabeleceu
2) O ANTIGO TESTAMENTO E LEVÍTICOS
O Antigo Testamento, também chamado de escrituras
hebraicas, é a primeira parte da bíblia cristã, da qual é constituída por 39
livros. Assim, nestes livros se encontram informações importantes para a
explicação da vida na Terra. O Antigo Testamento buscou descrever claramente a
aliança de Deus com o povo de Israel. De acordo com a crença religiosa judaico-cristã, Deus fez um pacto com o povo
israelense, e esse pacto e todos os seus detalhes a respeito estão totalmente
descritos neste livro. Junto com o Novo Testamento, ele forma a Bíblia Sagrada,
o livro sagrado do Cristianismo.
O livro de Levítico deve ser lido como uma continuação dos
capítulos 25 a 40 de Êxodo, pois a primeira expressão do livro “e chamou o
Senhor a Moisés” sugere esta estrutura, que na realidade vai até o livro de
Números 10:10, narrando o primeiro ano do nascimento da nação de Israel. As
leis são discursos que Javé diz a Moisés, para que ele transmita ao povo. Estas
leis eram para todo povo, pois tratava sobre os procedimentos de culto, festas
solenes, instruções para os sacrifícios e diretrizes gerais para que a vida
religiosa não fosse desassociada da vida civil.
3)
O SAGRADO/PROFANO EM LEVÍTICO.
Segundo o texto “Estudo
de Levíticos” [2], o nome
Levítico vem do grego, e significa “o que é relativo aos levitas”. O nome
hebraico do livro é “Ele chamou”, tirado das primeiras palavras do primeiro
versículo. Segundo esclarece este “Estudo” à expressão “O Senhor disse a Moisés”, aparece
cerca de 30 vezes. O livro é assim chamando porque nele está descrito e
disposto o sistema de adoração e de condutas levíticas.[3].
As “leis” ou regras cerimoniais a serem obedecidos, os
ritos sagrados, os animais designados para os sacrifícios foram previamente estabelecidos
pelo Ser Supremo que àquele povo se
revelou como sendo o Deus de Abraão,
Isaque e Jacó. Logo, se entende que todo aquele cerimonial era sagrado para os
israelitas e isto pode se verifica pelo cuidado que deveriam ter com os objetos
sagrados, vestuários e com as vitimas a serem consagradas e oferecidas no altar
do sacrifício. Uma breve leitura de
Levíticos se verifica que as palavras que mais aparecem ao longo do texto são: limpo, puro, santo, santidade, etc.,
todas relacionadas ao sagrado. Para que a oferta fosse aceita por Deus deveriam
seguir o ritual estabelecido; um detalhe importante entre os rituais des
religiões antigas.
Em Levíticos cap. 06, vers. 14 diz assim: “E esta é a lei da oferta de alimentos: os filhos de Arão a
oferecerão perante o Senhor diante do altar”. Verifica-se
por esta passagem que há forte paralelo com
ü
“A lei” - Regulamentação” divina paro o
ritual considerado sagrado;
ü Oferta
de alimentos – objetos que serão consagrados no altar, como se fosse alimentos
oferecidos aos deuses como se os mesmo se alimentassem;
ü Filhos
de Arão - Sacerdotes, adorador, líder religioso responsável pelo rito;
ü
“O
Senhor” – divindade a ser apaziguada ou adorada e transcendental;
ü
Altar - local adequado para o rito.
O sagrado
está presente em todo texto de Levíticos. Malinoviswki: ao falar
das civilizações nativas afirma que estes “atos e praticas que eram tradicionais para eles, eram considerados
sagrados, executados com reverencia e temor, rodeados de proibições e normas
especiais de comportamento[4]. Concorda
com Nircéa (p.13) que o sagrado
se torna conhecimento e faz justamente em suas
manifestações hierofânica, isto é, que algo de sagrado se nos revela. Assim aquele
povo vivia em um cosmo sacralizado em seu tempo, próprio de sua época (Mirceia,
p. 16).
Segundo Nircéia (p.17) a própria divindade criou esse
espaço sagrado quando disse a Moisés no monte para não se aproximar Dele (Ex.
3.5). Assim criou-se uma realidade através de manifestações divinas que tornaram o sagrado concreto
através de experiências vividas por eles.
Quando o
sagrado se manifesta por uma hierofania qualquer, não só há rotura na
homogeneidade do espaço, como também revelação de uma realidade absoluta, que
se opõe a não realidade da imensa extensão envolvente. A manifestação do
sagrado funda ontologicamente o mundo (Nircéia, p.17).
A
forma com que os levitas faziam do mundo era baseados nessas mentalizações
decorrentes de suas experiências com o sagrado e assim seu espaço sagrado foram criados e desenvolvidos
pelas praticas diárias e pelas consequentes manifestações de Deus entre eles.
Para Mircéia
(p.13) o sagrado é sacralização do
objeto hierofânico, portanto profano
será o oposto, mas não somente isto, ao sacralizar o mundo ou criar-se um espaço
sagrado aquilo que está fora desse espaço ou fora de sua forma de ver as coias
é o profano. O homem profano para Niceia (p.18) é aquele que recusa essa forma de sacralização do
mundo, purificada de toda pressuposição religiosa. Por outro lado, aquele local sagrado torna-se
para o homem religioso o centro do
mundo, a porta do céu, o local onde ele pode se comunicar com os deuses, um
local divino (p. 25,37).
Segundo Nircéia (p.38) é através do rito que o homem
religioso vai fazer a passagem sem perigo, do ‘tempo ordinário’, privado de
sacralidade para o ‘tempo religioso’.
Os levitas poderiam viver em duas espécies de tempo: aquele cercado por
ritos e leis, o sagrado; e aquele
desprovido de qualquer pressuposto religioso, uma viver heterogênio, de lazer,
trabalho e festas (Nircéia, p. 39).
O profano em levítico deve ser identificado
dentro do contexto sociológico da época de levitico e não pelas concepções
modernas de profano, portanto em leviticos profano é tudo aquilo que estava
fora do local sagrado ou que não dizia respeito às cerimônias e rituais. O Ano sabático, instituído a cada sete anos, para dar descanso a
terra, não é um ritual religioso, mas
técnicas agrícolas de preservação da terra de plantio. O Ano Jubileu, que
ocorria a cada cinquenta anos, quando a terra
deveria descansar por um ano sem fazer
plantações nelas. Neste ano as terras vendidas deveriam ser restituídas ao seu
verdadeiro dono e todas as dívidas perdoadas. Aqueles que se venderam à escravidão para
pagamento de suas dívida, deixavam a escravidão e teria sua divida findada. Estas leis não era apenas um Código de leis civis como conhecemos no ocidente, mas leis sagradas que desobedecidas se tornava pecado e além de punições havia necessidade de passar por um ritual de purificação. Levíticos há leis religiosas e civis e
profanar essas leis constituía pecado. O profano é a desobediência das leis de
Deus:
se andardes nos meus
estatutos, e guardardes os meus mandamentos, e os cumprirdes, Então eu vos
darei as chuvas a seu tempo; e a terra dará a sua colheita, e a árvore do campo
dará o seu fruto; E a debulha se vos chegará à vindima, e a vindima se chegará
à sementeira; e comereis o vosso pão a fartar, e habitareis seguros na vossa
terra. (Lv. 26:3-5)
A linha divisória entre sagrado e profano em Levíticos é muito tênue, porque não há separação entre religião e Estado; o regime politico existente é o teocrático, quando a divindade determinas a direção e a ações das pessoas.
Numa concepção moderna o profano é tudo aquilo que está relacionado ao mundo atual em que vivemos, também chamado de século e que está relacionado com a ciência e não com o mundo místico transcendental. Mas no tempo de Levítico a realidade de mundo era o sagrado e fora dele o profano, logo desobedecer às leis do sagrado constituía pecado e passível de punição divina.
Numa concepção moderna o profano é tudo aquilo que está relacionado ao mundo atual em que vivemos, também chamado de século e que está relacionado com a ciência e não com o mundo místico transcendental. Mas no tempo de Levítico a realidade de mundo era o sagrado e fora dele o profano, logo desobedecer às leis do sagrado constituía pecado e passível de punição divina.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Para Malinowski (p. 6) “a magia e religião não são meramente uma doutrina ou filosofia,
não apenas o cerne da opinião intelectual, mas o modo especial de comportamento, uma atitude
pragmática impregnada de razão,
sentimento e vontade em partes iguais”.
Desta forma, a religião em Levíticos era bem concreta para os israelitas, especialmente para o mais envolvido, os Levitas que estavam ali bem perto e ministros do cerimonial. A ideia de sagrado/profano para eles estava bem mentalizada; começava pela aproximação do santuário, onde ninguém deveria comparecer ao Senhor sem uma oferta à mão.
As tarefas diárias como trabalho, lazer, convivência família, casamento e festas era tudo concebido pelo viés do sagrado. A lei de Moisés (Torá) praticamente regulamentava tudo que envolvia o ser humano daquela comunidade israelita. O estado e religião estavam juntos e as regras era a mesma. Era profano separar o Estado da religião; era, portanto, um sistema totalmente laicista.
Desta forma, a religião em Levíticos era bem concreta para os israelitas, especialmente para o mais envolvido, os Levitas que estavam ali bem perto e ministros do cerimonial. A ideia de sagrado/profano para eles estava bem mentalizada; começava pela aproximação do santuário, onde ninguém deveria comparecer ao Senhor sem uma oferta à mão.
As tarefas diárias como trabalho, lazer, convivência família, casamento e festas era tudo concebido pelo viés do sagrado. A lei de Moisés (Torá) praticamente regulamentava tudo que envolvia o ser humano daquela comunidade israelita. O estado e religião estavam juntos e as regras era a mesma. Era profano separar o Estado da religião; era, portanto, um sistema totalmente laicista.
04) FONTES
BIBLIOGRÁFICAS
ALMEIDA. João Ferreira de. Bíblia sagrada: revista e atualizada. São Paulo: Sociedade
Bíblica do Brasil. 2011,
CHAMPLIN, R.N. Enciclopéia de Bíblia, Teologia e Filosofia.
10ª.Ed. São Paulo: Agnus. Vol. 03, 2011.
ELIADE, Mircéa. O Sagrado e o Profano. São Paulo: Martins fontes, 2001,
ESTUDO DE LEVÍTICOS,
disponível no website: http://segundaipudi.org.br/modulos/boletins/arquivos/26221445346281.pdf,
visto em 05/12/2015
GUERRIERO, Silas (Org.). O estudo das religiões: desafios contemporâneos. São Paulo: Editora Paulinas, 2003, Col.
Estudos da ABHR
MALINOWSKI, B. Magia, ciência e religião, disponível no web site: http://www.resumosetrabalhos.com.br/magia-ciencia-religiao-bronislaw- malinowski.html, visto em 05/11/15
05)- WEB SITES CONSULTADOS
http://www.bahai.org.br/religiao/Antigo.htm. Acesso em: 05/12/2015.
http://www.estudosdabiblia.net/200125.htm.
Acesso em: 05/12/2015.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Antigo_Testamento,
visto em 05/12/2015.
http://www.infoescola.com/religiao/biblia/,
visto em 05/12/2015
Estudo de Levíticos,
disponível no website: http://segundaipudi.org.br/modulos/boletins/arquivos/26221445346281.pdf,
visto em 05/12/2015
[1] Hierofanica termo
cunhado por Niercea Eliade (p. 13): “Este termo é cômodo, pois não implica
nenhuma precisão suplementar: exprime apenas o que está implicado no seu
conteúdo etimológico, a saber, que algo de sagrado se nos revela”.
[2]
Disponível no Website da II igreja Presbiteriana de Uberlândia: http://segundaipudi.org.br/,
visto em 05/12/15
[4]
Malinowski, B, p. 03.
Direitos reservados ao autor, somente permitida citações nos termos da lei.
Direitos reservados ao autor, somente permitida citações nos termos da lei.
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