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A ESCRAVIDÃO NA BÍBLIA.

Este texto e parte integrante  de um artigo maior postado neste blog: A TEOLOGIA PRESENTE NOS DISCURSOS DA IGREJA CATÓLICA       NO FIN...

25/12/2014

MARCIÃO E O CANON DO NOVO TESTAMENTO.

MARCIÃO E O CANON DO NT. 
José V. Rodrigues
Cursando Bacharel em Teiologia

Introdução

            Marcião, evidentemente, é o personagem  celebrado: “classificado por muitos como herege” odiado pelos “detentores da verdade cristã”, todavia fez mais pelo cristianismo  do  “muitos que apenas repetiram com papagaios os conceitos  que lhe foram passados”. “Sua admirável coragem em expressar sua fé, convicções, ponto de vista cristológico, responsável por provocar uma revolução na cristandade acomoda de sua época conquistando seguidores que perduraram até o séc. VII. . Os  que sabemos sobre sua vida e obra são  conhecidas através de obras de terceiro que foram seus opositores como  Justino Mártir (110-165 d.C), Irineu ( 120-202 d. C.), Epifânio (ca. 315-403) e Tertuliano que escreveu uma obra “refutando as teses marcionitas”


[i]. Faleceu em 165 d. C., todavia foi o responsável por estimular os pais da igreja a formalizar o credo e uma lista de “livros autorizados”.
É senso comum que ele tenha nascido em Sinopse, no Ponto, Ásia Menor. Convertido ao cristianismo, filho do bispo cristão do lugar. “Rico proprietário de navios que abandonou os negócios para se dedicar toda sua vida e atenção à fé religiosa”.
            Apareceu em Roma (ca. 140)  apresentando sua cristologia aos presbíteros da igreja que logo as classificaram com herética e prejudicial à fé. Expulso da igreja em 144 d.C. abriu sua própria igreja com seus bispos, cultos e culturas. Seus seguidores poderiam ser encontrados até o séc. VII.

            OS  principais posicionamentos e questionamentos de Marcião foram:
ü  Rejeitava o Antigo Testamento[ii];  
ü  O cristianismo não substitui o judaísmo[iii].  Para ele “O cristianismo deveria ser algo totalmente inovador”. O evangelho representava a essência do amor incondicional e absoluto e contrapunha fundamentalmente à Lei.
ü  Negava encarnação de Cristo[iv], o docetismo[v].
ü  Sua cristologia herética baseada num conflito de dois deuses. Um mau e ignorante (“demiurgo[vi]) responsável por crucificar Jesus; o outro Deus, o Pai, mais elevado e bondoso enviou Jesus a fim de redimir a raça humana,
ü  A redenção acontece, porque o deus “demiurgo” se equivocou ao crucificar Cristo[vii].
ü  Pregava total rejeição ao “deus” do Primeiro Testamento.[viii].
ü  Paulo foi o único e verdadeiro apóstolo[ix]; os demais eram judaizantes.
ü  A igreja não era mais fiel às diretivas paulinas, por isso se apresentava com um “reformador”.
ü   Pregava o ascetismo[x].
ü  Propôs uma lista de “livros autorizados[xi]” (cânon) em substituição ao Primeiro Testamento.
ü  Fez ataques às epistolas pastorais  paulinas as quais não usou no seu cânon[xii].
ü  Tinha sua própria Igreja que concorria com a igreja principal[xiii];
ü  Praticava o “Batismo pelos Mortos” [xiv].
ü  Afirmava que Jesus desceu ao Hades para libertar os espíritos que eram considerados maus e deixou os crentes fiéis, lá[xv].
ü  Negava a criação, a encarnação, a ressurreição final e julgamento final[xvi].

            O Cânon de Marcião consistia do Evangelho de Lucas, condensado, a narrativa do nascimento de Jesus foi suprimida; continha as dez epistolas paulinas, editada ao seu modo. Ficam de fora as cartas pastorais de I e II Timóteo e Tito.  “Tertuliano (ca. 350) afirma que ele fez interpolações[xvii] às cartas de Paulo e que páginas inteira são suprimidas (Contra Marcião 5, 18,1), expurgando todas as referências positivas ao judaísmo” [xviii]. Ignorava as epístolas pastorais, Tertuliano afirma que ele  as conhecia muito bem.

Conseqüências.
            Os pais da igreja afirmavam que a fé cristã de Marcião era defeituosa e que sua rejeição das Escrituras judaicas e das raízes históricas da igreja no judaísmo era equivocada. Todavia, sua mensagem ganhou popularidade, pois parecia bastante lógica. Surge uma igreja concorrente e organizada, com missionários, cultos e cultura e com literatura definida: o Cânon de Marcião.

Situação da igreja do segundo século.
 Sucessão apostólica e as perseguições.  
            A igreja viveu um período denominado de “vácuo de autoridade”. Após a morte dos apóstolos uma grande quantidade de teologias e heresias invadiu o cristianismo. A igreja sofria fortes perseguições inibindo sua organização sob uma liderança única. O lideres eram os principais alvos das denúncias e falsas acusações. Perseguições externas e heresias internas surgem a necessidade de uma liderança forte. Diante da pretensão dos hereges que diziam serem os detentores do verdadeiro evangelho, e possuidores da certa revelação secreta, se diziam serem os sucessores dos apóstolos. Havia necessidade, portanto que a igreja tivesse autoridade de dizer quem tinha razão.
            Inácio de Antioquia, martirizado em 107 d.C. foi o primeiro a externar esta necessidade. A caminho do martírio escreveu sete cartas que se tornaram o maior registro sobre sua vida.  “Elas refletiam tanto as perseguições quanto as heresias que se enfiltravam nas igrejas e propunha a atribuição de mais poder ao bispo para enfrentá-las[xix].

Necessidade da igreja.
            “Na igreja do segundo século, devido a circunstancias, surgem necessidades internas e externas que exigiu dos pais da igreja certa mobilização a fim de suprir essas necessidades:
ü  “Padrão para o culto e modelo de orações, liturgia e sermões”.
ü  “Material de leitura para as devoções publicas particulares”.
ü  “Patrão teológico para responder aos críticos não cristãos e para resolver disputas teológicas dentro de suas próprias fileiras.”
ü  Necessidade de um texto fixo a ser utilizado dentro  do mundo latino e grego e  ser traduzido para outras línguas.
ü  Um texto normativo da vida de Jesus (evangelho) e do significado de sua obra[xx]
            A necessidade de saber quais livros deveriam ser lidos nas igrejas; e quais livros deveriam ser traduzidos para as línguas estrangeiras das pessoas convertidas”. Já circulava entre as igrejas os evangelhos e as cartas de Paulo, todavia sem uma formalização e unificação dos livros comuns.

Reações e conseqüências:  A resposta da igreja.
             O Cânon[xxi].  A Escritura lida na igreja,  o Primeiro Testamento,  os evangelhos e as epistolas, não estavam claramente definidos; cada igreja lia o que achava melhor ou o que dispunha.. Os escritos dos apóstolos não estavam reunidos todos em único volume como conheceram hoje, e também não eram considerado Escritura.  Somente no final do século II que começaram a ser reconhecidos como Escrituras dos cristãos. Com Marcião a igreja  se motivou a organizar uma lista de livros que deveriam ser lidos nas igrejas. Esta compilação não foi realizada de modo formal, mas foi acontecendo até ser concluída e definitivamente definida em 397 no Concilio de Catargo.   “Após a morte de Marcião, 160,  Irineu, acompanhado do apologista Justino Mártir e seu discípulo Taciano saíram em defesa  de  um quádruplo evangelho: Mateus, Marcos, João e Lucas na sua forma integral”. Somente após do séc. II que o processo de canonização das Escrituras se tornou mais rápida[xxii].
            O credo. A igreja se viu obrigada a desenvolver  um credo. O primeiro credo foi denominado “Credo Apostólico” com objetivo de refutar as heresias marcionistas e o gnosticismo. O primeiro texto do credo remonta o ano 150 d.C. e foi sendo aperfeiçoado e melhorado no decorrer do tempo até chegar sua texto final. No concilio de Nicéia, em  325 d.C.,  desenvolveram o  “Credo Niceno” com objetivo de combater as heresias de Ário.
            A sucessão apostólica. “Inicialmente no séc. II as principais sedes episcopais, Roma, Antioquia, Éfeso e outras possuía  certa lista dos bispos que sucederam aos apóstolos. Esta lista servia para unir o presente com o passado, embora a exatidão dessas listas tenha sido contestada. Embora o problema maior do segundo século  fosse a “unidade da doutrina”: que essas doutrinas haviam sido repassadas pelos apóstolos ou eram as mesmas dos apóstolos;  desta forma haveria uma unidade da fé. Enquanto os hereges diziam ter uma “doutrina secreta que só eles conheciam igreja apontava sua doutrina”, abertamente ensinada por todos”. Enquanto os hereges tinham suas doutrinas baseadas em segredos de um ou de outro apóstolo, a igreja pratica a doutrina universal de todos os apóstolos “[xxiii].

Conclusão.
            Evidentemente que Marcião causou grandes problemas em sua época devido a sua teologia  parcial e herética, levando após si seguidores que deram sua vida em prol a causa de cristã,  todavia ele se revelou determinado e apaixonado pela causa, entregando-se totalmente e negando o mate-rialismo. Este acontecimento revelou a fragilidade da igreja em combater as heresias e evitar a entrada de “lobos”  no rebanho de Cristo.  Por outro lado, levou a igreja a se mobiliar em defesa da verdade e da doutrina cristã providenciando mecanismo  para combater futuros ataques à vinha de Cristo.
            Marcião, sem duvida atingiu a “canela” dos primeiros apologétas, mas viriam outros com mais força e violência que deixariam “hematomas” mais graves no corpo de Cristo.

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ROCHA, Ruth. Minidicionário da Língua Portuguesa. São Paulo: Scipione. 2005..
MCDONALD, Lee Martin. A Origem da Bíblia. Trad. Euclides L, Calloni, são Paulo: Paulus, 2013.  
GONZÁLEZ, Justo L. Uma história ilust, do Cristianismo. Trad. Key Yuasa. São Paulo: Vida Nova. Vol. 1. 1995
 CHAMPLIN, R.N. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. 10ª. Ed..  São Paulo: Agnus, vol 4, 2011.  
 CHAMPLIN, R.N. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. 10ª. Ed..  São Paulo: Agnus, vol 1, 2011. 

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REFERÊNCIAS



[1] http://reflexaobiblica.spaceblog.com.br/173582/MARCIAO-E-O-CANON-DO-NT/0.[ii] Pare ele o Deus do A. T. era um “demiurgo” um deus justo e iracundo, chamado Jeová que criou um mundo mau e tudo nele é mau. Enquanto que o Deus do Primeiro Testamento era um Deus bom. O deus do A. T. deveria ser destingido do Deus mais alto e Desconhecido revelado no N. T. “Na sua obra  Antítese, Marcion, argumento que o Antigo Testamento não somente contradiz o Novo Testamento, mas também entra em contradição consigo mesmo”. Champlin, R.N. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. 10ª. Ed..  São Paulo: Agnus, vol 4, 2011. pp 120.
 Esta rejeição pode ser em conseqüências das perseguições empreendidas em diversos lugares pelos judeus aos cristãos que cresciam em números.  Os judeus eram responsáveis pelas “denuncias” às autoridades, pois a religião cristã não era “religião autorizada” pelo estado romano. Policarpo (Ca. 155), bispo de Esmirna, foi vítima dessas denúncias. Por outro lado, os judeus estavam em decadência  principalmente devido ao fracasso na revolta do messiânico Bar  Kabeka contra os romanos(132-135).  Mcdonald, Lee Martin. A Origem da Bíblia. Tradução Euclides Luiz Calloni, são Paulo: Paulus, 2013. pp 166, 167.
[iii] ). O Cristianismo era uma revelação independente em tudo do Judaísmo. Estava numa graduação completamente acima e não deveria conter nada daquela antiga e ultrapassada. Marcelo acusa os presbíteros de judaizar o Cristianismo fazendo analogias com o Primeiro Testamento.
[iv] Sugere o docetismo que afirma que Cristo não se encarnou, parecia de vindo em carne. Champlin, R.N. Enciclopédia de Biblia, ibid.,. pp 120.  O mesmo conceito pode ser visto na obra. Mcdonald, Lee Martin. Ibid.,. pp 162.[v] Docetismo, do grego “dokeo” – “eu pareço” ou “apareço”.  “Segundo o qual Jesus pareceu ter um corpo físico. Os docetas negavam a humanidade plena de Jesus”. Mcdonald, Lee Martin. Ibid., pp 162[vi] “Demiurgo”, do grego 'dimiourgo', significa “artesão”, palavra usada por Platão para descrever o Criador do universo.
[vii] Após a ressurreição Jesus acusa o deus “demiurgo” requerendo as almas humanas para serem redimidas, pois ele havia cumprido a Lei e fora crucificado injustamente. Desta forma ele se torna o cabeça da humanidade, pois se havia identificado com eles e os comprara por meio de sua morte. Champlin, R.N. Enciclopédia de Bíblia, ibid.,. pp 120.[viii] O “deus” do VT deveria ser rejeitado e nisto se consistia a salvação em que devirá crer no Deus da graça revelado no Segundo Testamento.
[ix] Champlin, R.N. Enciclopédia de Biblia, ibid.,. pp 120.[x] Ascetismo, do grego “askesis”, exercício, pratica, treinamento. Algumas vezes usado com exercício da autonegação de uma ou de outra forma.  O conceito por trás da pratica consistia em negar o direito ao corpo, ou mesmo castigá-lo.  Champlin, R.N.  ibid, , vol. 1,  2011. pp 338.
 Para Marcião, os homens  enganam a si mesmo quando se tornam do mundo  esperando que se possa  ao mesmo tempo derrotar a carne. O homem deveria manter-se casto, ficar longe da sensualidade e não se  casar.  Champlin, R.N. Enciclopédia de Bíblia, ibid.,. pp 120.[xi] “Marcião  é a primeira pessoa conhecida que produziu uma coleção bem definida que mais tarde veio a ser conhecida como Escritura”. Para substituir, na sua igreja,  o Canon judaico amplamente usado pelas Igrejas. Isto quer dizer que não produziu o primeiro Canon cristão, mas um Canon para sua religião. .. Mcdonald, Lee Martin. Ibid., pp 164-166[xii] Nol, Mark A.  Momentos decisivos na Historia do Cristianismo. Trad. Alderi S. de Matos. Editora Cultura Cristã. São Paulo:2000. pp. 39
[xiii] Ele tinha sua própria igreja, credo, missionário e cultura. Muitos deles morreram como mártires de sua causa. Champlin, R.N. Enciclopédia de Bíblia, ibid.,. pp 120.[xiv] Champlin, R.N. Enciclopédia de Bíblia, ibid.,. pp 120.[xv] Demonstra total oposição ao judaísmo. Os espíritos dos crentes são dos patriarcas, profetas, etc., pois estes haviam sido considerados infiéis por Cristo. Champlin, R.N. Enciclopédia de Bíblia, ibid.. pp 120.[xvi] González, Justo L. Uma história ilustrada do Cristianismo. Tradução Key Yuasa. São Paulo: Vida Nova. Vol. 1. 1995.  pp. 99.
[xvii]  Interpolar: por uma coisa entre outras; intercalar  palavras ou frases em um escrito. Rocha, Ruth. Minidicionário da Língua Portuguesa. São Paulo: Scipione. 2005. pp404.
[xviii] González, Justo L.  ibid., pp.105.
[xix] Mcdonald, Lee Martin.  Ibid., pp 162
[xx] Nol, Mark A.  Momentos decisivos na Historia do Cristianismo. Trad. Alderi S. de Matos. Editora Cultura Cristã. São Paulo:2000. pp. 38  Mcdonald, Lee Martin. Ibid., pp 167;
[xxi] Nos primórdios do cristianismo a palavra “cânon” significava “regra de fé”, escritos normativos (i.e. as Escrituras autorizadas). Por volta de 350 d.C. o conceito de cânon na época de Atanásio, o conceito de cânon já estava bem definido. Cânon no sentido ativo é a Bíblia, pela qual tudo o mais deve ser julgado. No sentido passivo, “cânon” é a regra padrão pelo qual um escrito deveria ser julgado inspirado ou dotado de autoridade. A palavra “cânon” deriva se da palavra grega “kanôn” (cana, régua) e da palavra hebraica “kaneh”, palavra do Primeiro Testamento que significa “vara” ou “cana de medir” (Ez. 40:3). No NT emprega o termo em sentido figurado referindo-se ao padrão ou regra de conduta (Gl. 6:16)[xxi].
[xxii] Nol, Mark A. ibid., pp. 39
[xxiii] González, Justo L.  ibid., pp. 106, 107.
 

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